segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Exmos. Senhores,

fui confrontado com uma infografia publicada pelo vosso jornal na edição de hoje, dia 10 de Setembro de 2012, na qual são confrontados os valores das transacções de passes de jogadores efectuadas por Futebol Clube do Porto e Sport Lisboa e Benfica no último período de transferências.

Quem analisar os dados por vós publicados, poderá, certamente, ser apanhado desprevenido, ficando a pensar que o presidente do Benfica é quase tão bom a negociar jogadores como a vender pneus e a negociar contratos de construção em Espanha. Analisando a vossa infografia, constata-se que o Benfica apresenta um saldo positivo entre vendas e compras de passes de 26,5 milhões de euros e o Porto de apenas 11,7 milhões.

Nada mais falso. O Record, ao apresentar os dados da forma como o fez está a enganar o mais desprevenido dos leitores. Eu compreendo que o Record tem que vender jornais. E para vender jornais, o Record tem que agradar à maioria. E a maioria é constituída por adeptos do Benfica. Pouco me importa se o Record prefere dar mais destaque a uma lesão de um guarda-redes do Benfica do que a um título internacional do Porto, ou a mais um pseudo-mega-reforço, que é o futuro melhor jogador do Mundo até se perceber que não vai para o Benfica e então já não presta, do que a uma qualificação de uma equipa portuguesa para a fase de grupos da Champions League. Qualquer pessoa por menos neurónios que tenha a funcionar percebe que o Record considera a Taça Latina um título oficial, quando a FIFA o desmente, para agradar ao seu público-alvo.

O que não se entende é que o Record use critérios diferentes para valorizar as vendas de Porto e Benfica, no sentido de chegar ao resultado pretendido, demonstrar que o Benfica negociou melhor do que o Futebol Clube do Porto.

Vamos a factos:

- Hulk foi vendido por 60 milhões de euros, detendo o Porto 85% do seu passe. O Porto comunicou que teve uma receita líquida pelos seus 85% do passe, descontando comissões, direitos de formação e prémios ao atleta, de 40 milhões de euros. Já o Benfica comunicou que alienou o passe de Javi Garcia por 20 milhões de euros. O Benfica possuía apenas 80% do passe do jogador espanhol, recebendo apenas 16 milhões de euros, isto sem contar com outros custos que possa ter incorrido aquando da transacção. Ou seja, o Record considera que o Porto recebeu 40M por Hulk, que é um valor líquido, e referente apenas à percentagem do passe detida pelo clube, mas no que respeita a Javi Garcia, considera o valor total, mesmo sabendo que o Benfica tinha apenas 80% do passe atleta;

- Pegando ainda no exemplo anterior, se o Record considerou que o Benfica recebeu 20 milhões por Javi Garcia, mesmo detendo só 80% do seu passe, porque motivo os negócios Álvaro Pereira e Belluschi foram valorizados de acordo com a percentagem que o Porto detinha dos seus passes (75 e 50%)? É que, que eu saiba, o uruguaio foi vendido por 10 milhões e o argentino por 2,5. E nem vou pegar nos negócio Yartey e Felipe Bastos, ou nos custos inerentes à venda de Witsel, que o Record, mais uma vez, ignora.

Qual é a lógica? Será a lógica do "assim dá mais jeito" ou a lógica do " que se lixe a verdade, o que importa é vender jornais e mostrar que o Benfica é o maior e o seu presidente o maior combatente do nosso défice da balança comercial"? Será que as vendas justificam tamanha demonstração de mau jornalismo? Tenho muitas dúvidas.

Sem mais assunto, agradeço a atenção dispendida na leitura deste e-mail.

Com os melhores cumprimentos,